quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Jose, vacilao...

Era uma manha chuvosa. Já acordou ouvindo o barulho da chuva e isso o irritava profundamente. Olhou para o lado. 05h01min marcava o relógio. O dia, 29/02/2009. A muito esperava por esse dia. Levantou, segurando as cobertas sentiu a umidade do ar. Olhou pelas janelas, ainda sem se levantar da cama, e viu a forte neblina que pairava no céu. Rangendo os dentes de raiva, pois detestava o frio, assim como detestava a chuva, assim como detestava acordar cedo de manha e ver, ou melhor, não ver nada, pois é impossível enxergar alguma coisa com essa neblina toda, e corre-se o perigo de morrer atropelado por um caminhão desgovernado, como ele sempre dizia. Mas a verdade, é que ele detestava muita coisa... quase tudo mesmo... Na verdade, se você lhe pergunta-se assim de surpresa, do que ele gostava, não teria o que respoder , a não ser talvez, o fato de adorar detestar de tudo. O que é uma coisa lamentável, pois ninguém é feliz detestando tudo. Todo mundo precisa gostar de alguma coisa, ter um hobby, sei lá, alguma válvula de escape, algo para se distrair, fazer parar de pensar, fazer a vida valer a pena, fazer você agüentar o chefe incompetente, a professora burra, a namorada que não para de falar no seu ouvido enquanto você simplesmente quer ver o jogo do flamengo e não que ouvir ninguém, nem sua mãe, nem sua namorada, nem o Galvão Bueno falando besteira. Mas, bem... esse era o caso... o cidadão, que até agora ninguém sabe o nome, mas que se chama José só pra esclarecer, era muito infeliz, e isso se devia a sua atitude negativa diante da vida, de detestar muitas coisas e não gostar de nenhuma, e ele estava muito errado nisso, a não ser pelo fato de que ninguém deve ficar feliz por acordar as 05h01min da manha. Porem, o fato era que acordou tão cedo, as 05h01min da manha, para estar no tribunal as 08h45min. Sim, e verdade, ele acordou cedo de mais, porem o tribunal era longe da sua casa, os ônibus sempre atrasavam e ele detestava chegar atrasado, assim como detestava ônibus lotado, como detestava andar na cidade em dia de chuva, com aquele monte de gente lerda, como ele dizia, que fica andando de baixo da marquise de guarda-chuva pingando na nossa cabeça, como detestava a poluição do centro, como detestava... tudo, como a essa altura vocês devem saber... Ha! Quase esquecendo, como detestava jovens, jovens mal educados, jovens loucos, jovens maconheiros, como o Jose dizia... Especialmente os jovens do andar de cima, sempre saindo, e entrando, e chegando tarde, e trazendo gente pra dentro do apartamento, e rindo... RINDO!! Isso enfurecia o Jose... queria deixar ele puto? Era só soltar uma gargalhada... acabou o dia... E esse era o motivo, de Jose acordar tão cedo, numa manha tão fria, com tanta neblina, para ir ao tribunal. Os jovens do andar de cima, que o infernizavam!! Tanto fizeram, ate que ele decidira processá-los. Mas isso não de uma hora para outra, antes ele tentará tudo. Conversou com todos os moradores do prédio sobre o problema com os maconheiros do 702, chamou a policia em diversas ocasiões, ligou para o sindico para reclamar, dia após dia, pensou até, em ir até lá e conversar pessoalmente e pedir para que diminuíssem o barulho e a musica, mas não, ele nunca se rebaixaria a esse ponto. O José falando com os maconheiros? Nunca, ele detestava maconheiros, assim como detestava macumbeiros, pipoqueiros e confeiteiros, homem na cozinha? É coisa de bicha, dizia. Detestava as bichas também, por sinal. Então por todos esses motivos, seu Jose acordou as 05h01min, numa manha fria e com neblina, para ir ao tribunal, onde movia uma ação contra os maconheiros do 702. Ele não demorou para se arrumar, pois na verdade já havia dormido de banho tomado, vestido, de terno, gravata, sapato e tudo, e seu café já estava pronto numa garrafa térmica, junto te uma torrada onde ele havia previamente passado uma fina camada de manteiga, da mais barata, pra economizar. O café estava meio frio e a torrada com um gosto estranho, oque não serviu para melhorar o animo do José, mas como ele nunca era bem humorado mesmo, era impossível de se notar a diferença. Após reclamar de alguma coisa sem muita importância, saiu apressado pela porta. No corredor viu a filha de 17 anos dos vizinhos da frente, abrindo a porta nas pontas dos pés, o que o deixou extremamente irritado, pois detestava toda essa liberdade que a juventude tem hoje em dia, passou por ela e disse um "Bom Dia" bem alto, seguido de uma serie de tossidas bem altas, capazes de acordar ate um urso dormindo em uma caverna do outro lado da rua, e seguiu para o elevador. Apertou o botão e esperou. E esperou. E esperou. E nada. Começou a ficar irritado. Detestava esperar. Andou de um lado para o outro. Essa hora, seu coração já batia muito rápido, devido ao alto numero de irritações que teve desde que acordou a exatos 08h37min minutos atrás. O elevador parou. Ele houve o barulho e a luz acendeu. E ele andou ate a porta. Mas a porta não abriu. E ele esperou. E esperou. E esperou. E esperou mais um pouco... E nada. Ele ficou bem irritado, pois detestava esperar, detestava quando as coisas não funcionavam, detestava descer os seis andares pela escada. Jose começou a pensar se tudo isso não tinha sido má idéia desde o inicio. Se não estava procurando problema à toa, se só o que tinha passado nos últimos 09h37min minutos já não faria toda essa historia não valer mais a pena. Quase pode ouvir uma voz sussurrando no seu ouvido. “Não vá, volte para cama”. Pensou se não seria um anjo lhe dando um conselho. E como ele ficou bravo! Detestava essa historia de anjo, de espíritos, de fantasmas, assim como detestava quase tudo. Resolveu não esperar mais e partiu em direção a escada, para descer pelo caminho que detestava. Desceu os seis andares e chegou ao térreo já meio suado, andou até a saída para a rua. Quando atravessou a porta, deu três passou e ouviu um barulho vindo do alto como um zunido e pensou: “os maconheiros fazendo merda de novo” e esse foi seu ultimo pensamento antes de morrer atingido por um piano caído do 7º andar. Não sei se foram os maconheiros ou as bichas que jogaram o piano, ou se tudo não foi um acidente, mas nesse dia, alguém fez um grande bem para a humanidade.

1 comentários:

Unknown disse...

hahahah, que final, hein.. nossa, coitado do cara.. pelo menos acabaram seus tormentos, e o dos outros tb...
e agora, José?